Silva

Um conto brasileiro de mistério místico

Criação de André Dale

Há mais mistérios no pasto do que supõem as mentes domesticadas da cidade.

Introdução

“Silvia” é um ritual de despedida com duas horas de duração, em forma de longa-metragem, para amantes do cinema independente.

Ambientado em uma cidade rural do interior do Brasil, em um período de nove dias que culminam no solstício de verão de 21 de dezembro de 2019, o filme apresenta o pasto como arena para resgatar a força da ancestralidade.
Emocionalmente intenso, mistura a tensão dos filmes de terror, com a suavidade sedutora dos contos de fada, e a profundidade sobrenatural da peça “Hamlet”, de William Shakespeare, para uma declaração de amor ao delírio e uma ressignificação do medo da morte através da arte.

Sinopse

Silvia é uma antiga atriz que abandonou tudo para se isolar na roça com seu grande amor. Criaram um mundo independente, onde a subjetividade é louvada e o extraordinário venerado. No “Sítio Casa de Silvia”, acontecem coisas que não suportam explicações, como jambos que brotam em um pasto onde não há jambeiros.

A tranquilidade só é perturbada quando Davi, um obstinado estudante de teatro, aparece por lá. Ele ouviu falar que a famosa atriz Diana Thomastéler, celebridade reverenciada dos anos 90, que teoricamente está morta, estaria não apenas viva mas se escondendo naquela cidade. Se Silvia e Diana forem a mesma pessoa, Davi não abrirá mão de sugar todo o seu conhecimento. Sobre teatro? Sobre a vida? Talvez sobre a morte.

Quem foi Diana Thomastéler?

Diana foi uma diva, ícone das telenovelas dos anos 90. Era um acontecimento do seu tempo, um dos mais celebrados nomes do final do século XX, que, além de sucesso, acumulou uma fortuna confortável em sua conta bancária.

Em 1999, um acidente interrompeu a gravação do primeiro capítulo da nova novela do horário nobre. A cena seria grandiosa: dezenas de figurantes lotavam uma praia no Recreio dos Bandeirantes, onde a personagem de Diana entraria mar adentro para salvar a vida da própria filha. Uma multidão de fãs ansiosos se aglomerava para assistir a gravação. Na hora de entrar no mar, Diana recuou, desesperada. Uma sequência de gritos intensos deixou a equipe em pânico e, com sintomas de um infarto cardíaco, a atriz foi levada para o hospital. A comoção dos fãs e da imprensa foi imediata, a novela foi cancelada e as notícias foram tristes.

Duas décadas depois, em um mundo de regras virtuais, o “Caso Thomastéler” renasce na internet em tom conspiratório. YouTubers de vinte e poucos anos, fascinados pela lenda da diva do fim do século, acumulam visualizações sugerindo que a morte de Diana é fake. Será? Onde ela estaria? Em outro país? Em uma cidade desconhecida no interior do Brasil? Pouco importa. Apesar dos vestígios, não se deve levar a sério as conspirações da internet.

A Cidade

O enredo se passa em um cidade fictícia, inventada para o filme. O nome não será mencionado, tampouco a localização. Habitada por um número ínfimo de pessoas, é uma representação arquetípica de muitos interiores do Brasil, um ambiente vasto, de pasto verde e vida simples, onde a internet não chega e o sinal de celular não funciona. O Bar da Lully, uma mercearia que vende bebida e tudo que se pode precisar, é a locação que apresenta o ambiente público da cidade.

A Sítio

O “Sítio Casa de Silvia” é a principal locação do filme. Uma casa de campo clássica: gramado, piscina, varanda, sala de jantar, cozinha e poucos quartos.

Silvia e Valéria possuem quartos separados, com características próprias. No quarto de Silvia – poucas vezes revelado – há poucos móveis: um armário de madeira com espelho, um Dom Quixote de Portinari na parede e uma cama de solteiro singela, transmitindo a pureza da personagem. O quarto de Valéria, onde as duas dormem juntas, é mais sofisticado, com cama de casal e pinturas de Anita Malfatti.

A Protagonista

SILVIA, uma artista aposentada de 70 anos, foi diretora no movimento teatral dos anos 80. Conhecida como Diana Thomastéler, ficou famosa como protagonista de novela aos 35 anos, o que a afastou do teatro. A rotina intensa de trabalho fez Silvia desenvolver um quadro psicótico grave, que ela tratava secretamente. Aos 50 anos, durante a fatídica gravação da cena na praia, Silvia escutou vozes vindo do mar e teve uma crise de pânico.

Sem familiares vivos, criou um plano com Valéria para forjar sua morte e recomeçar a vida longe da sociedade. O filme não evidencia os métodos utilizados para concretizar a falsa morte, mas fica claro que deu certo.

Afastada da medicina moderna, lida com suas alucinações de forma própria. Começou a identificar profecias no que era tratado como delírio psicótico e contracena com as figuras que só ela vê, dizendo textos de personagens clássicas do teatro e obtendo respostas. Mas a verdade é que isso não a satisfaz, Silvia compreende suas diferenças mas se sente sozinha.